Hoje há a total consciência de que a industrialização e o crescimento económico tiveram e continuam a ter, um impacto, não intencional mas altamente negativo, para o ambiente, com especial foco para as áreas urbanas. Mais concretamente, derivado principalmente da alteração do tipo de produtos que se adquire e consome, os quais estão cada vez mais dependentes das mais variadas embalagens, a par com um crescente nível de desperdícios alimentares, os níveis de resíduos urbanos têm vindo a ultrapassar as capacidades dos governos e das entidades responsáveis pelo respetivo processamento.
Segundo dados do Worlbank.org, os resíduos sólidos gerados pelas zonas urbanas alcançaram em 2010 1,3 biliões de toneladas por ano. Segundo a mesma fonte, é esperado que estes valores praticamente dupliquem até 2025, aproximando-se dos 2,2 biliões de toneladas. Tal representa um incremento significativo de 18% (de 1,2 para 1,42 kg) de resíduos produzidos por dia, per capita, em apenas 15 anos. De notar, por exemplo, que tendo em conta os valores de resíduos atualmente produzidos globalmente em centros urbanos, era possível encher uma linha de viaturas de recolha com 5 mil quilómetros de comprimento, todos os dias do ano.
Esta quantidade de resíduos traduz-se em custos associados ao tratamento dos mesmos de, aproximadamente, 187 milhões de euros por ano, estimando-se que este valor suba para os 343 milhões em 2025. Tanto os valores de 2010 como também, e principalmente, as estimativas para 2025 são, inquestionavelmente, alarmantes. Como tal, elevadíssimos volumes de resíduos e, connsequentemente, os custos envolvidos no seu processamento, respetivas metodologias e tecnologias de processamento e eliminação verdadeiramente eficientes, assim como, e não menos relevante, o impacto que estes resíduos têm sobre o meio ambiente, tanto a nível local como global, são atualmente os problemas com que se debatem as entidades responsáveis pelos resíduos sólidos urbanos.
Esta é uma problemática claramente identificada faz já alguns anos, mas que atualmente alcançou proporções drásticas e que, consequentemente, necessita rapidamente de novas soluções.
De notar que há três aspetos chave nesta questão: i) o incremento da produção global de resíduos sólidos gerados pelos residentes em centros urbanos, ii) a contínua e profunda alteração da composição desses resíduos e, iii) a forma como os mesmos são eliminados.
A resolução, ou pelo menos a minimização desta questão, tem claramente de endereçar estes três aspetos. O segundo aspeto encerra, provavelmente, a base para a resolução do problema. Atualmente, a composição dos resíduos urbanos é consideravelmente distinta da de alguns anos atrás. Esta, derivado da profunda alteração que os artigos e bens de consumo têm registado (e continuam a registar), passou de um mero “lixo” praticamente sem valor, para um resíduo com cada vez maior “qualidade” e com um elevadíssimo potencial de reutilização. Plástico, vidro, papel, metal, etc., são algumas das matérias-primas que se encontram nestes resíduos.
Esta é uma questão amplamente reconhecida, havendo atualmente inúmeras soluções e iniciativas com o objetivo de garantir a separação e consequente aproveitamento destes materiais. Pontos de recolha diferenciados (para separação de embalagens, vidro e cartão) e estações de reciclagem desses mesmos materiais são uma realidade presente em diversos países civilizados. Esta tem sido a principal forma de endereçar esta questão.
De notar que a correta e intensiva separação dos resíduos sólidos proporciona, por um lado, a minimização dos resíduos que seguem para a inceneração ou aterro e, por outro, o reutilização de matérias-primas na produção de novos bens. As vantagens para o meio ambiente são inquestionáveis.
Contudo, e apesar de haver uma preocupação crescente na separação de resíduos e consequente reciclagem dos mesmos, os números alcançados ainda se encontram consideravelmente abaixo do pretendido. A adesão a este processo ainda é muito reduzida, os meios disponíveis são claramente insuficientes ou pouco adequados à realidade e os processos associados não proporcionam a eficiência desejada.
De notar, por exemplo, que a implementação dos referidos pontos de recolha diferenciados tem um elevado impacto em termos de custos, tanto ao nível de materiais como também ao nível da logística: por um lado, uma viatura que recolhe os resíduos indiferenciados não é a mesma que recolhe os resíduos diferenciados e, por outro, os intervalos de recolha dos resíduos são também distintos dada a diferente produção dos mesmos. Quantos meios afetar, de que forma, quantas vezes se deve passar para recolher, entre inúmeros outros pontos, são algumas das questões que se tem de analisar para se conseguir encontrar uma solução que permita responder ao complexo binómio custo/eficiência.
Este é um processo de difícil resolução. Neste âmbito o mercado tem vindo a disponibilizar diversas soluções para a gestão do processo de recolha de resíduos que, para além da óbvia gestão global do mesmo, permitem definir e otimizar rotas de recolha, ponto de extrema relevância para a eficácia do processo.
Estas situações têm impacto tanto ao nível das entidades gestoras do processo de recolha, com custos elevados e desadequados à realidade, como também ao nível do cidadão, o qual paga por um serviço com inúmeras falhas e com consideráveis impactos visuais, ambientais e, não menos relevante, de saúde.
No que diz respeito ao cidadão, é notório que há ainda uma reduzida consciencialização da necessidade de se proceder à separação dos resíduos para garantir que estas matérias-primas entram num ciclo da reciclagem.
Tal como acima referido, a adesão é claramente residual quando comparada com as metas que se pretendem alcançar. Tal poderá estar por um lado ligado aos meios atualmente disponíveis para que se realizar essa separação, nomeadamente os ecopontos e, por outro lado, da reduzida noção que o cidadão tem da quantidade de resíduos que produz e da importância da separação dos mesmos.
Nesse sentido, há duas linhas de atuação que têm vindo a ser aplicadas: a recolha seletiva diretamente à porta do cidadão e a aplicação do conceito “utilizador-pagador”, isto é, o cidadão paga uma taxa diretamente ligada aos resíduos que produz, sendo beneficiado tanto mais beneficiado quanto menos resíduos indiferenciados produza. Ou seja, quanto mais separação de resíduos realizar, menor valor irá pagar.